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Infinitta - Treino e Dieta
Desde os anos iniciais da Revolução, a prática de exercícios físicos em Infinitta é obrigatória. Um dos princípios da Revolução é a defesa pessoal e do processo revolucionário. Logo, todos deveriam estar em forma para melhor servir uns aos outros (à Coletividade) e à Revolução.A mandatoriedade foi instituída quando o Estado passou a fornecer academias populares de forma universal. Exercícios ao ar livre, no entanto, deveriam ser praticados de forma coletiva com um grupo credenciado do bairro. Dessa forma, cada cidadão maior de idade possuía uma ficha onde essas participações em academias e grupos de atividades físicas eram registradas. Com o tempo, exceções e flexibilizações da medida puderam ser aplicadas conforme o ofício, limitações e deficiências físico motoras de cada cidadão. Para os menores, o investimento na educação integral pôde acomodar a prática de exercícios em horário escolar.
No entanto, uma minoria significante da população conseguia burlar a medida, principalmente antes das flexibilizações. As práticas iam da falsificação de documentos, ou da obtenção de carimbos irregularmente, através de corrupção local de baixo nível até a exacerbação de justificativas. Estima-se que, entre as décadas de 60 e 80, de 20 a 30% da população tenha conseguido driblar a mandatoriedade. As dificuldades em implementar um currículo de educação física abrangente e eficaz para a educação básica também tardaram a que a medida trouxesse resultados. Após quase três décadas de aperfeiçoamento, apenas nos anos 90 que a educação física universal passou a obter êxitos através da evolução metodológica.
Atualmente, o registro de práticas saudáveis de exercícios físicos se dá de formas mais tecnológica (através de um cartão nos anos 80 e por meio de sistemas informatizados atualmente). Apesar do considerável êxito das medidas e da mudança cultural provocadas, dois efeitos colaterais indesejáveis ainda se mantêm: 1. O preconceito perante o sedentarismo; 2. A persistência de alguns indivíduos em burlar o sistema, extrapolando as margens da flexibilização. Estima-se hoje que a prática mandatória de exercícios físicos seja realizada por algo entre 85 e 90% da população, ainda que apenas 55 ou 60% estejam praticando de forma realmente desejável.
A alimentação cumpre um papel fundamental ao lado da prática obrigatória de exercícios físicos. Com a promoção de uma dieta saudável e orgânica, o cidadão médio pôde unir a a prática de exercícios físicos com alimentação saudável, visando obter uma melhor qualidade de vida e performance. Ao lado do serviço popular de saúde mental, o serviço popular de nutrição é outro que dispõe o atendimento de profissionais da área através do atendimento particular para cada indivíduo. Juntos, nutricionista e cidadão combinam uma dieta baseada tanto nos objetivos individuais daquele cidadão como nos objetivos desejados pela Coletividade. No entanto, o serviço de nutrição também enfrentou dificuldades ao passar do tempo, que variavam entre expectativas irreais do governo, terrorismo nutricional por parte dos profissionais, a resistência de alguns setores da sociedade e a usual corrupção local de baixo nível.
O ponto mais baixo foi durante a segunda metade dos anos 60, quando o Ministério da Saúde proibiu o consumo de drogas ilícitas e lícitas. A medida era brutal, uma vez que alimentos gordurosos e açucarados também eram considerados ilegais. A "lei seca" foi o que promoveu a maior crise alimentícia de Infinitta, uma vez que a promoção de uma alimentação saudável não era algo universal e a reforma agrária ainda não estava em um estágio suficientemente avançado. Sob a justificativa de criar bases para um crescimento saudável e de manter a "pureza" do agente revolucionário, o ministro Carlo Carrera acabou contribuindo com o contrabando destes gêneros alimentícios, com a repressão de detratores e a estigmatização do sedentarismo. A crise afetou a popularidade da revolução, o que levou ao julgamento do ex-ministro no ano de '71. Seu paradeiro hoje é desconhecido. Os danos causados pela lei seca fizeram dela a maior crise alimentar da Infinitta revolucionária. Uma nova crise veio a ocorrer apenas durante a epidemia de bulimia dos anos 80, ainda que em uma escala consideravelmente menor e atingindo um âmbito mais social e psicológico. Apesar da revogação da lei seca, a produção e importação de alimentos considerados não saudáveis ainda é bastante regulada.
O tardio e recente sucesso das medidas de exercícios físicos e de alimentação saudável foi possível através de múltiplos fatores. 1. A educação das novas gerações através da educação integral dos primeiros aos últimos anos da educação básica (infantil, fundamental 1 e 2 e médio); 2. A maturidade do processo de coletivização social, onde a instituição da família nuclear progressivamente perdeu força para a socialização secundária; 3. O desenvolvimento e a evolução das políticas públicas referentes ao exercício físico e a alimentação saudável após décadas de dificuldades e aprimoramentos. Através dos dados de atividade física e dietários, o governo foi capaz de integrar estes dados ao novo sistema de crédito social implementado em 2002. Dessa forma, espera-se promover ainda mais os hábitos saudáveis de forma que alcancem resultados ainda mais desejáveis.
A valorização da prática de exercícios aliada a consolidada presença da educação física em ambientes escolares fortaleceu, no ensino superior, as atléticas universitárias. Atualmente, estes organismos presentes em todas as universidades operam como pequenos clubes e contribuem para o prestígio de cada instituição. Os Jogos Universitários, uma espécie de jogos olímpicos, ocorre a cada três anos e envolve diversas modalidades. Além dos jogos gerais, são organizados campeonatos próprios dos principais esportes nacionais, como o vôlei, futebol e atletismo. Alguns dos nomes mais notáveis do esporte universitário acabam graduando aos clubes nacionais e os melhores são convocados para as seleções.
A prática de exercícios físicos e a adesão de uma dieta saudável e balanceada formam hoje um pilar da coletivização social. No entanto, esta base possui problemas os quais enfrenta atualmente. Algo que causou a epidemia de bulimia dos anos 80 e que segue assombrando a Coletividade é a idealização de um padrão de beleza e de cidadão. Indivíduos acima do peso e/ou com baixa disposição para atividades físicas são vistos negativamente pela sociedade, algo que marginaliza estes cidadãos. Dessa forma, estas pessoas historicamente recorreram a outras frentes de atuação visando serem aceitos pela sociedade, sobretudo através trabalho intelectual. No entanto, o impacto na saúde mental e na solidariedade social são sentidos da mesma maneira. O mal estar e a baixa auto estima ocorrem, inclusive, entre cidadãos ativamente físicos devido às comparações com seus pares e a dificuldade em alcançar resultados idealizados. Como medida para conter a crise, o discurso institucional, através da propaganda, vem buscando promover a inclusão social e a aceitação de "corpos reais".